Advogado de Bolsonaro se reúne com Barroso e confirma pedido para anular delação de Cid
Encontro ocorre em meio às investigações sobre a delação de Mauro Cid, e defesa do ex-presidente busca anulação do acordo.

Nesta segunda-feira (24), o advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro, Celso Vilardi, reuniu-se com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, para discutir estratégias de defesa relacionadas às recentes acusações contra Bolsonaro e seus aliados. Vilardi anunciou a intenção de solicitar a anulação do acordo de delação premiada firmado pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. A delação de Cid tem sido uma das principais bases para a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente e outras 33 pessoas, acusadas de envolvimento em uma trama golpista para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva após as eleições de 2022.
Após o encontro, Vilardi afirmou que a defesa pretende questionar a validade da delação de Cid, alegando possíveis irregularidades na obtenção dos depoimentos e na condução do acordo de colaboração. Além disso, o advogado destacou a intenção de solicitar que a análise da denúncia e eventual julgamento ocorram no plenário completo do STF, composto por 11 ministros, em vez de ser conduzido pela Primeira Turma, que conta com cinco ministros. Essa estratégia visa garantir uma avaliação mais ampla e colegiada das acusações.
A Primeira Turma do STF, atualmente responsável pelo caso, é integrada pelo relator ministro Alexandre de Moraes e pelos ministros Cármen Lúcia, Cristiano Zanin, Flávio Dino e Luiz Fux. A defesa de Bolsonaro busca o julgamento pelo plenário completo, o que incluiria também os ministros Kassio Nunes Marques e André Mendonça, ambos indicados pelo ex-presidente, e que atualmente compõem a Segunda Turma. Contudo, a possibilidade de transferência do julgamento para o plenário depende de decisão do relator ou de uma votação favorável de três dos cinco ministros da Primeira Turma, o que, segundo fontes internas, é considerado improvável no momento.
Durante a reunião com Barroso, Vilardi também manifestou a intenção de solicitar o impedimento dos ministros Flávio Dino e Cristiano Zanin de atuarem nos casos relacionados a Bolsonaro, argumentando possível parcialidade devido às indicações recentes feitas pelo presidente Lula. Essa medida busca assegurar a imparcialidade no julgamento das acusações.
Além das questões processuais, a defesa de Bolsonaro enfrenta desafios relacionados a novas evidências que vieram à tona recentemente. Áudios extraídos de dispositivos eletrônicos de alguns dos acusados revelam detalhes sobre o suposto envolvimento de militares em um plano para impedir a posse de Lula e restringir a atuação do Poder Judiciário. Em um dos áudios, o general da reserva Mario Fernandes, ex-chefe dos "kids pretos" do Exército, menciona a existência de um decreto "despachado ontem com o presidente" e faz um apelo por "movimento". Em outra gravação, Fernandes sugere que não há outra saída além da ação planejada, indicando a gravidade das intenções do grupo.
Em resposta a essas revelações, Vilardi afirmou que os áudios não complicam a defesa de Bolsonaro, enfatizando a necessidade de analisar o material dentro de um contexto mais amplo e não apenas por meio de trechos isolados. O advogado ressaltou que ainda não teve acesso completo a todas as mídias e que pretende discutir o assunto em detalhes nas instâncias apropriadas. A audiência com Barroso teve duração aproximada de 20 minutos e contou com a presença de assessores da presidência do STF.
O STF informou que Vilardi apresentou as razões de futuras petições que serão protocoladas, e que o ministro Barroso analisará os pedidos conforme forem formalizados. Em janeiro deste ano, Vilardi já havia declarado que investigações não podem ser baseadas apenas em declarações de colaboradores premiados, sem provas concretas de corroboração. Essa posição reforça a estratégia da defesa de questionar a validade e a legalidade das evidências apresentadas até o momento.
Paralelamente, investigações conduzidas pela Polícia Federal apontam para a existência de um plano detalhado, conhecido como "Punhal Verde e Amarelo", que teria sido elaborado por militares com o objetivo de impedir a posse de Lula e Alckmin. O plano incluía ações extremas, como o assassinato de líderes políticos, e foi discutido em reuniões que teriam ocorrido na residência do ex-ministro da Defesa, Walter Braga Netto, em novembro de 2022. Essas revelações adicionam uma camada de complexidade às acusações e podem influenciar o andamento dos processos judiciais em curso.
O cenário político e jurídico em torno dessas investigações permanece dinâmico e complexo. A defesa de Bolsonaro continua a articular estratégias para contestar as acusações, enquanto as autoridades judiciais e investigativas avançam na apuração dos fatos e na coleta de evidências. Observadores políticos e jurídicos acompanham de perto os desdobramentos, que podem ter implicações significativas para o futuro político do país.
COMENTÁRIOS