Acidente com arma de fogo deixa adolescente ferida e reacende debate sobre segurança
Caso em Catalão expõe riscos da presença de armas em ambientes familiares e escolares; Paraná e outras regiões já registraram incidentes similares, ampliando o debate sobre prevenção e responsabilidade.

Um disparo acidental dentro de um carro, em plena luz do dia, foi suficiente para reacender um debate urgente no Brasil: os riscos da presença de armas de fogo em ambientes frequentados por crianças e adolescentes. O episódio mais recente aconteceu em Catalão, no sudeste goiano, onde uma adolescente de 15 anos foi atingida por um tiro disparado por uma colega. O caso, que poderia ter terminado em tragédia, levanta questões sobre segurança, responsabilidade e prevenção, especialmente em famílias de profissionais da segurança pública — realidade presente em muitos lares curitibanos e brasileiros.
Desenvolvimento
Uma rotina interrompida por um disparo
Na última quarta-feira (23), a rotina escolar de uma adolescente de 15 anos foi abruptamente interrompida após ela passar mal na escola e ser buscada pela mãe. O que parecia apenas um episódio de mal-estar se transformou em uma ocorrência policial, quando a amiga da jovem, ao encontrar uma arma de fogo no carro utilizado para o resgate — veículo do pai, policial militar —, manuseou o objeto e acabou disparando acidentalmente. O tiro atingiu de raspão o quadril da adolescente, que foi imediatamente encaminhada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Dr. Jamil Sebba. Segundo a Polícia Militar de Goiás (PM-GO), ela está estável e não corre risco de vida.
O caso foi registrado como disparo acidental, e tanto a arma quanto o veículo foram encaminhados para perícia. O episódio, contudo, está longe de ser um fato isolado. Dados do Ministério da Saúde revelam que, somente em 2023, mais de 1.200 adolescentes foram atendidos no Sistema Único de Saúde (SUS) em decorrência de ferimentos causados por armas de fogo — muitos deles por disparos acidentais, com registros em todas as regiões do país.
Paraná e Curitiba: episódios similares acendem alerta
Incidentes como o de Catalão também são registrados em Curitiba e no Paraná. Um levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública aponta que, nos últimos cinco anos, o estado do Paraná registrou ao menos 37 casos de disparos acidentais envolvendo menores de idade. Na capital, o caso mais recente aconteceu em 2022, quando um adolescente de 14 anos ficou ferido após manipular uma arma encontrada em casa, no bairro Boqueirão. O episódio mobilizou autoridades, escolas e organizações sociais, reforçando campanhas de conscientização sobre o armazenamento seguro de armamentos.
Especialistas alertam que a presença de armas em ambientes familiares representa um risco elevado, especialmente quando não há armazenamento seguro ou orientação adequada sobre o perigo do manuseio. "O acesso facilitado a armas de fogo por crianças e adolescentes multiplica as chances de acidentes. Infelizmente, há uma percepção equivocada de que a simples presença de adultos garante a segurança, o que não corresponde à realidade", afirma Luciana Werneck, especialista em segurança pública da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
O Brasil e os desafios da prevenção
O contexto brasileiro é especialmente desafiador. De acordo com a ONG Sou da Paz, o Brasil lidera rankings globais de mortes por armas de fogo entre jovens, sendo que uma parcela significativa desses óbitos resulta de acidentes domésticos. A legislação vigente prevê regras rígidas para o armazenamento de armas, especialmente por integrantes das forças de segurança, mas a fiscalização e o cumprimento das normas nem sempre são efetivos.
O Estatuto do Desarmamento (Lei nº 10.826/2003) exige que armas sejam mantidas em local seguro, sob guarda do proprietário e com tranca adequada. No entanto, a dinâmica familiar e as rotinas de profissionais como policiais e seguranças privados frequentemente desafiam a aplicação prática dessas normas. "Além do cumprimento legal, é fundamental investir em campanhas educativas e em tecnologia, como cofres inteligentes, para reduzir a exposição dos menores ao risco", defende o advogado Maurício Miranda, especialista em direito penal.
O papel das escolas e das famílias
Além do ambiente doméstico, as escolas desempenham papel crucial na prevenção de acidentes com armas de fogo. Em Curitiba, por exemplo, a Secretaria Municipal da Educação mantém parceria com a Polícia Militar no projeto "Escola Segura", que oferece palestras sobre segurança, cidadania e prevenção de acidentes, incluindo orientações sobre o perigo das armas. O programa, que já alcançou mais de 20 mil alunos desde 2020, reforça que o diálogo aberto e a informação são essenciais para criar uma cultura de segurança entre crianças e adolescentes.
Nas famílias, especialistas recomendam que armas sejam sempre guardadas descarregadas, fora do alcance de menores e, preferencialmente, em cofres trancados. "A educação preventiva deve envolver toda a família, incluindo conversas claras sobre os perigos e o que fazer ao encontrar uma arma", destaca a psicopedagoga curitibana Roseli Moreira.
Repercussão, investigação e consequências
O caso de Catalão segue em investigação, com a arma e o veículo passando por perícia e a expectativa de depoimentos dos envolvidos nos próximos dias. Autoridades locais reforçam que todo disparo acidental deve ser tratado com rigor, apurando eventuais responsabilidades e adotando medidas para prevenir novos casos.
No Paraná, o Ministério Público recomenda que ocorrências similares sejam imediatamente comunicadas aos órgãos de proteção da infância e adolescência, para garantir o acompanhamento psicológico das vítimas e de suas famílias. Segundo a promotora de Justiça Adriana Ferrer, "o acolhimento e o acompanhamento pós-trauma são fundamentais para evitar danos emocionais de longo prazo".
Conclusão
O acidente em Catalão é mais um alerta para o risco real que armas de fogo representam em ambientes familiares e escolares brasileiros. A tragédia só não foi maior graças à rápida resposta dos envolvidos, mas o episódio serve de lição para que pais, responsáveis e autoridades intensifiquem medidas de segurança e prevenção. Em Curitiba e no Paraná, a reflexão se impõe: investir em educação, fiscalização e conscientização é fundamental para proteger nossos jovens e evitar que episódios como este se repitam.
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