Trabalhador sobrevive a queda de andaime e reacende debate sobre segurança em obras
Caso recente em Catanduva (SP) evidencia importância do uso correto de equipamentos e reforça discussões sobre segurança em construções, tema crítico também em Curitiba e no Paraná.

Era para ser apenas mais uma manhã de trabalho em um prédio em construção, mas, por volta das 8h do último sábado (26), um trabalhador de Catanduva, no interior de São Paulo, viveu momentos de tensão ao ficar pendurado apenas pela corda de segurança após o andaime em que estava ceder. O resgate rápido feito pelos próprios colegas evitou uma tragédia, mas o episódio serve de alerta para um problema recorrente em canteiros de obras em todo o Brasil: os riscos e desafios enfrentados diariamente por quem trabalha nas alturas, muitas vezes exposto a situações de perigo, apesar das normas de segurança.
Desenvolvimento
A cena impressionou quem passava pela Rua Campinas, em Catanduva (SP), quando um trabalhador foi visto suspenso no ar, preso apenas pela linha de vida, após o andaime onde ele atuava ceder subitamente. Segundo o Corpo de Bombeiros, o homem não chegou a se ferir, graças à ação rápida dos colegas, que conseguiram puxá-lo de volta para dentro do edifício. A construtora responsável pela obra ainda não se manifestou oficialmente sobre as causas do incidente.
Acidentes como esse, infelizmente, não são casos isolados. Segundo dados do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho (SmartLab/Ministério Público do Trabalho), o setor da construção civil é um dos campeões em notificações de acidentes de trabalho no Brasil. Em 2023, foram registrados mais de 34 mil acidentes em obras por todo o país, sendo quedas de altura e acidentes com andaimes entre os mais frequentes. No Paraná, apenas no ano passado, cerca de 2.500 trabalhadores sofreram algum tipo de acidente em canteiros, conforme levantamento do INSS.
Em Curitiba, apesar dos avanços em campanhas de prevenção e fiscalização intensificada pela Secretaria Municipal do Urbanismo, casos envolvendo quedas de andaimes continuam acontecendo. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil de Curitiba (Sintracon), João Batista da Silva, afirma que "a maioria dos acidentes poderia ser evitada com o uso correto de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), treinamento e manutenção adequada dos andaimes".
O papel dos EPIs e o cumprimento das normas
O uso de EPIs, como capacetes, cintos de segurança, botas e linhas de vida, é obrigatório em qualquer obra. Contudo, relatos de fiscalização em Curitiba e região apontam que nem sempre esses equipamentos são usados corretamente. “Muitos trabalhadores reclamam de desconforto ou pressa para entregar a obra, o que faz com que os EPIs sejam deixados de lado, aumentando os riscos”, explica a engenheira de segurança do trabalho, Carla Mendonça.
Além disso, a Norma Regulamentadora 35 (NR-35) estabelece regras claras para trabalhos em altura, como treinamentos periódicos, análise de riscos e sistemas de ancoragem certificados. Mas, na prática, a fiscalização nem sempre consegue cobrir todos os canteiros de obras. Em 2023, Curitiba realizou cerca de 480 inspeções em obras, com 74 notificações e interdições parciais por irregularidades ligadas à segurança em altura.
Exemplos regionais e desafios nacionais
Em Curitiba, casos como o de Catanduva já aconteceram em bairros como Portão e Boa Vista. Em março deste ano, dois operários ficaram pendurados por mais de 10 minutos após uma estrutura ceder em um edifício na Avenida República Argentina. Ambos foram resgatados pelos bombeiros e escaparam sem ferimentos graves, mas a ocorrência reforçou os alertas sobre a necessidade de fiscalização constante.
No Paraná, iniciativas como o programa “Obra Segura”, desenvolvido em parceria entre Ministério Público do Trabalho, CREA-PR e sindicatos, buscam capacitar e conscientizar empresas e trabalhadores sobre boas práticas de segurança. Mesmo assim, especialistas apontam que a alta rotatividade no setor e o uso de mão de obra terceirizada dificultam a consolidação de uma cultura de prevenção de acidentes.
Já em âmbito nacional, a construção civil responde por cerca de 20% das Comunicações de Acidente de Trabalho (CAT) emitidas no Brasil, segundo o Ministério da Previdência. Além dos impactos físicos e emocionais, acidentes geram prejuízos econômicos expressivos, tanto para as famílias quanto para as empresas e para o sistema público de saúde.
O que pode ser feito? Caminhos para a prevenção
Segundo especialistas, prevenir acidentes em obras passa por três pilares principais: capacitação contínua, fiscalização rigorosa e investimento em tecnologia. Em Curitiba, algumas construtoras já adotam sistemas de monitoramento em tempo real e aplicativos que facilitam o reporte de situações de risco no canteiro. Outra tendência é o uso de andaimes certificados e de plataformas elevatórias que oferecem maior estabilidade.
A participação ativa dos trabalhadores é fundamental. “Qualquer irregularidade deve ser comunicada imediatamente ao responsável técnico da obra”, orienta o engenheiro e perito em segurança, Luiz Fernando Souza. Programas de treinamento, palestras e simulações de emergência ajudam a criar uma mentalidade preventiva, reduzindo o risco de tragédias.
Conclusão
O episódio em Catanduva reforça a urgência de se discutir e aprimorar a segurança no ambiente de trabalho da construção civil, tanto no interior de São Paulo quanto em cidades como Curitiba e em todo o Paraná. Acidentes podem ser evitados com responsabilidade, informação e respeito às normas. Mais do que números, cada trabalhador salvo representa uma vitória coletiva pela vida e pela dignidade no trabalho.
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